Desafios e Perspectivas no Ensino de Ciências
Em 2022, ainda em um mundo muito incerto sobre as nossas condições de trabalho após a Pandemia de COVID-19, nos dedicamos a desenvolver o nosso projeto para o Edital CAPES n. 24/2022. Estávamos ansiosos para retomar as nossas atividades junto às escolas de Ouro Preto e contribuir mais com o trabalho dos educadores das Ciências Naturais. Entretanto, como as escolas e a comunidade nos receberia? Como as escolas estavam se adequando a volta à “normalidade”? Em que medida, as inovações ou alterações da Base Nacional Curricular Comum nos trariam obstáculos para empreender as nossas intervenções nas aulas dos anos finais do Ensino Fundamental? Como Novo Ensino Médio impactou o currículo e a forma de organização das escolas de nossa região? Orientados por essas questões e por nossa trajetória como formadores de professores buscamos nos fundamentar em abordagens teóricas e de ensino e aprendizagem que são centrados nos problemas atuais e na valorização da participação dos alunos. Pensamos em uma proposta que estimulasse a participação coletiva e engajada dos estudantes do EF ou EM, mediada pelos professores, e no caso, mais específico do Residência Pedagógica, também pelos bolsistas. Pensamos em construir os nossos grupos de bolsistas com licenciandos e licenciandas dos cursos de Ciências Biológicas, Química e Física, considerando a possibilidade de oferecermos atividades mais interdisciplinares. Um desafio! Afinal, a interdisciplinaridade tem se relevado um objetivo difícil de ser alcançado quando consideramos as amarras e as limitações de uma formação inicial ainda muito limitada aos conteúdos específicos de cada curso. Entretanto, ao sermos aprovados e recebermos as bolsas, enfrentamos mais desafios que se revelaram surpresas indigestas. Devido a evasão dos alunos e alunas dos nossos cursos, o preenchimento das vagas foi custoso. As inscrições para os processos de seleção de bolsistas eram menores do que esperávamos, e tudo isto, nos gerava angústia. Fazendo uma concessão aqui e ali, montamos os dois grupos com quinze bolsistas, que foi subdividido em 6 grupos com 5 licenciandos. Ufa! Começamos a nos conhecer, a conhecer as escolas parceiras, fazer um diagnóstico que nos permitisse vislumbrar as nossas ações. BNCC, Novo Ensino Médio, paralisações das escolas estaduais, pressão sobre os professores das escolas, dos nossos supervisores. Sim, a realidade é bem diferente do que traçamos em um papel, em um projeto em que tudo se encaixa, afinal somos doutores, estudamos a nossa vida toda, para dar respostas, contudo, a realidade sempre nos desafia, mas também nos surpreende nos oferecendo a oportunidade de sermos aprendizes juntos aos nossos colegas professores das escolas parceiras e bolsistas do Residência Pedagógica. Portanto, esse e-book constituído por seis relatos produzidos por oito bolsistas trazem um pouco dessa experiência situada no chão da sala de aula das escolas parceiras de nosso projeto. São os resultados de estudos, planejamentos, ações e reflexões de licenciandos e licenciandas que se dedicaram a se tornar autores de sua formação, e com certeza, nos ensinaram muito sobre a educação básica e, poderão ensinar a muitos dos seus futuros alunos. Nenhuma experiência, por mais simples que pareça, deve ser silenciada. Cada voz ressoa o compromisso com a transformação e o aprendizado, ecoando das salas de aula para além dos muros da escola. É nesse espaço de partilha que os relatos dos bolsistas do Programa de Residência Pedagógica revelam a potência de ensinar e aprender em diálogo constante com suas realidades.