Anais do I Congresso Internacional de Interpretação e Decisão Judicial
É com muita satisfação que lanço aqui estas linhas, a título de prefácio, nesta obra oriunda do I Congresso Internacional de Interpretação e Decisão Judicial, realizado pelo NUPID – Núcleo de Pesquisa em Interpretação e Decisão Judicial. Satisfação, primeiro, porque se tem aqui o reflexo do êxito do referido Congresso, do qual participaram estudiosos e pesquisadores de diversas partes do Mundo, com a realização de conferências, e a apresentação e discussão de trabalhos em torno de assuntos caros à temática da decisão judicial, em seus mais variados aspectos e desdobramentos. E, segundo, mas não menos importante, porque se trata de uma demonstração da maturidade do próprio NUPID, que nesta obra encontra (mais uma) testemunha de que se está diante de uma “ideia que deu (muito) certo”. O NUPID tem caráter interinstitucional e, como consta de sua apresentação na internet, é integrado pelos Programas de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal do Ceará, da Universidade de Fortaleza, do Centro Universitário Christus e do Centro Universitário 7 de Setembro, com ouvintes, pesquisadores, coordenadores e líderes vinculados a diversos programas de pós-graduação stricto sensu de todos os estados brasileiros. Seu objetivo é o de aprimorar os métodos de avaliação e de interpretação do Direito, por meio de pesquisas interdisciplinares e interinstitucionais, e de metodologias pouco habituais na seara jurídica tradicional. Para bem compreender como se interpreta e como se decide, é importante investigar o “saber”, em suas possibilidades e limites. Daí a Epistemologia ser objeto de uma das linhas do núcleo. Diante de um cenário em que máquinas também auxiliam na tomada de decisões, além de comportarem-se, elas próprias, diante de uma realidade que precisa ser por elas, de algum modo, conhecida, investigam-se também temas ligados à inteligência artificial, notadamente no que tange àquele mesmo “saber”, objeto das atenções da Epistemologia, quando desenvolvido no âmbito de sistemas inteligentes artificiais. A interdisciplinaridade, e a interinstitucionalidade, exigem que se tratem, por igual, de temas ligados à Hermenêutica, dada a sua centralidade ao processo de interpretação. Igual relevo têm as Ciências Cognitivas, com a análise da influência de vieses, ruídos e demais elementos inafastáveis ao processo decisório, humano ou artificial, mas que nem por isso devem ser ignorados ou mantidos incontrolados. Desacordos e jurisdição constitucional, com suas implicações no equilíbrio e no diálogo entre as instituições do Estado, são por igual objeto de estudo, assim como a história da jurisdição e do pensamento político brasileiro, em seus aspectos históricos, sociológicos e políticos. Reúnem-se, desse modo, pesquisadores de instituições diversas, a perquirir em torno de assuntos distintos, mas correlatos, na busca por compreender um fenômeno igualmente complexo e fundamental ao Direito, que é a interpretação e a tomada de decisões jurídicas. As limitações cognitivas humanas tornam impossível uma compreensão plena e completa da realidade, em sua complexidade e abundância. Surge então uma tensão entre, de um lado, a necessidade de especialização, de sorte a que, tal como na Física, a aplicação de uma maior pressão sobre uma menor área permita um maior aprofundamento; e, de outro, a importância de se compreender a realidade em sua inteireza, sendo certo que as divisões feitas por quem pretende se especializar em frações dela invariavelmente a mutilam e impedem uma cognição mais adequada do todo. Nada mais pertinente, nesse cenário, que a interdisciplinaridade, de modo a que o diálogo entre os que se aproximam da realidade por diferentes ângulos aperfeiçoe a imagem que se faz dela. O mesmo pode ser dito da interinstitucionalidade, que depura o conhecimento de possíveis influências e vícios que podem acometer a pesquisa feita sempre e apenas dentro dos mesmos centros, sendo a exigência de que bancas examinadoras e avaliadoras tenham membros externos um pequeno testemunho disso. Essas características, que constituem o NUPID, refletem-se, como a leitora poderá conferir, nesta obra que tenho a honra de prefaciar. Os trabalhos que aqui constam, todos de elevada qualidade e primorosa feitura, dialogam em torno dos assuntos anteriormente indicados, que perpassam as linhas do Núcleo e foram discutidos no Congresso. Foram apresentados e debatidos nele, sendo o volume que a leitora ora tem nas mãos o resultado de todo esse esforço. Aproveito a oportunidade, inclusive, para referir o empenho dos coordenadores do Núcleo, Caio Rodrigues e Matheus Casemiro, em nome dos quais agradeço a todos os demais pesquisadores que, além do esforço investido em suas próprias pesquisas, dedicam ao Núcleo seu tempo também no deslinde de questões administrativas inerentes ao seu funcionamento. Parabenizo-os a todos, pelo labor que resultou nesta obra, e ainda à editora, que contribui de modo inestimável para a literatura jurídica especializada, e principalmente a você, leitora, que poderá disfrutar de conteúdo atual, relevante, e de alta qualidade. Bom proveito!