Justiça e comunicação: o diálogo (im)possível
A porosidade crescente das fronteiras entre os campos da Justiça e dos media pode ser pensada por referência às exigências do tempo presente. Dificilmente as sociedades contemporâneas se compadecem com uma visão da Justiça fechada sobre si mesma e sobre a estrita racionalidade que orienta a sua administração, exigindo pelo contrário um crescente escrutínio das decisões judiciais. A Justiça vê-se, por conseguinte, forçada a adotar práticas discursivas de maior transparência e clareza, de modo a poder explicar-se perante o público e os media. Trata-se, simultaneamente, de sociedades que carecem de uma estrutura de mediação da realidade social e da formação da opinião comunicativa, que amplificam, quer por gerirem, num espaço público alargado, as trocas comunicacionais desenroladas nos demais campos da vida coletiva, com os quais constroem uma multiplicidade de relações. Não obstante as áreas de tensão que se espraiam, a Justiça e os media estão, pensamos, em condições de construir diferentes patamares de entedimento. E estão-no não apenas numa dimensão normativa, devido às responsabilidades públicas de ambas as instituições nas democracias contemporâneas, como também numa igualmente importante dimensão empírica, como este livro procura demonstrar. De facto, ao suscitar a reflexão sobre as fronteiras que aproximam e separam os planos da deliberação pública formal, representada pelos tribunais, e informal, represnetada pelos media, a coletânea de textos que ora se apresenta redime precisamente a teorização tradicional neste domínio de um revivificado ceticismo. The growing porosity of the boundaries between the justice system and the media should be considered with reference to the demands of the present age. It is difficult for contemporary societies to deal with a justice system that is closed in upon itself and oriented by a strict rationality. They demand more scrutiny of judicial decisions, clearer and more transparent discursive practices, and more accountability to the public and the media. However, these societies do not have any structure for mediating social reality and the formation of communicative opinion, which means that the communicational exchanges that take place in the various fields of collective life are amplified by being managed within a broad public area and used to construct a multiplicity of relations. Despite the areas of tension involved, the justice system and the media are, we believe, in a position to foster a better understanding, not only on a normative level, given the public responsibilities accruing to both institutions in contemporary democracies, but also empirically, as this book attempts to show. In fact, by stimulating reflection about the boundaries that join and separate the different levels of formal public deliberation, as represented by the courts, and the informal level represented by the media, this collection of texts manages to redeem the traditional theorization in this domain from a revived scepticism.