Decolonização de conceitos sociojurídicos
Diante desse cenário, o pensamento decolonial surge, acreditando ser possível a existência de um mundo onde caibam muitos mundos, ainda que seja um mundo local, nacional ou mesmo, regional. Neste sentido, este livro traz uma importante contribuição com a reflexão crítica e analítica de conceitos sociojurídicos apresentados pelos seus autores(as). São conceitos que vêm sendo utilizados sem muita reflexão na racionalidade jurídica das faculdades de direito e do sistema de justiça, e, assim, passam a ser reproduzidos no senso comum, por isso, merecem ser revistos. Quando não apropriados à realidade ao qual se inserem, ou quando importados de outras sociedades, ou ainda, quando construídos alheios às lutas sociais locais, estes conceitos correm o risco de confinar, ou mesmo omitir o grupo social nas mais variadas estratificações de poder, ao invés de contribuir para a sua compreensão, formação e emancipação. Assim é que a presente coletânea apresenta 27 conceitos que foram analisados na perspectiva decolonial por professores e pesquisadores do direito e outras áreas afins, de várias instituições de estudos superiores do Brasil. Não se trata, pois, de um rol de definições, ou de meras palavras em busca de sentido e significados como em um dicionário, mas da análise crítica e decolonial de conceitos que foram sendo elaborados em outros ambientes culturais, outras territorialidades, outras experiências e visões de mundo, e chegaram até nós sem se adequarem à nossa realidade social, à luta dos grupos sociais mais vulneráveis, ou mesmo a uma racionalidade jurídica mais apropriada. Por isso, causam tanto descompasso e desvio de finalidade no tempo, no espaço, nos sentidos e no propósito da sua aplicação. O livro Decolonização de conceitos sociojurídicos está dividido em sete partes temáticas, as quais contêm os artigos pertinentes: Parte 1 - Minorias: com análise dos conceitos sobre minorias, diferença e diversidade, raça, índio, criança, assédio sexual e feminismo; Parte 2 - Constituição, Democracia e Cidadania: com os conceitos sobre constitucionalismo, democracia, pluralismo jurídico, cidadania, gentrificação; Parte 3 - Meio-ambiente e sustentabilidade: com os conceitos de meio-ambiente e natureza, desenvolvimento, sustentabilidade, água, patrimônio nacional; Parte 4 - Pachamama e Direitos da Natureza: decolonização dos conceitos de Natureza e direitos de Pachamama; Parte 5 - Tecnologia aplicada ao Direito: sobre os conceitos de inteligência artificial, cidadania digital, teleaudiências; Parte 6 - Educaçao, Socioeducação e Crime: com os conceitos de crime, ato infracional, educação; Parte 7 - Temas variados aplicados ao direito: conceitos de descobrimento, função social da empresa, beleza ambiental. Na sua organização ímpar, o livro apresenta mais de 600 páginas de conteúdo crítico e analítico decolonial sólido, estimulador de uma outra visão de mundo, e do diálogo entre o moderno e aquilo que ficou omitido nas relações hierárquicas do poder, do saber e do ser. Este é um projeto iniciante para o direito, portanto, está aberto a críticas e a construção de novos referenciais para a pesquisa sociojurídica. Esperamos ter dado a nossa contribuição acadêmica, conscientes de que este livro representa o nosso terçado, com os dois lados das narrativas que urgem para alcançar os lados da face do seus leitores, ambos com igual importância, valor e respeito.