Educação, ética, interculturalidade e saberes decoloniais
Para além de uma discussão que parece estar na moda, a proposta desse livro é contribuir, de fato, para as reflexões e práticas que dinamizam e movimentam o ambiente escolar. Quando se pretende articular ética, formação, interculturalidade e decolonialidade para pensar as coisas da educação, ele quer dialogar não apenas com os pesquisadores das temáticas aqui tratadas, mas sobretudo chegar ao ambiente da escola e da sala de aula. São nesses lugares que, efetivamente, emergem situações desafiadoras que, no mais das vezes, as pessoas têm dificuldades em compreender, reconhecer e construir soluções. Sempre recorrendo ao mais do mesmo, o que geralmente acontece é um olhar superficial e raso às inquietações e dramas geradores desses desafios, problemas e conflitos. Aquele tipo de formação de professores, que predomina nos cursos de licenciatura, parece pedir um novo significado e sentido, pois não está mais dando conta de responder e atender às exigências e às expectativas da formação escolar. Talvez seja necessário irmos além de uma educação pautada somente pela razão ou por uma ideia ou ideal de ser humano, mas tomar as reflexões de autores clássicos e contemporâneos de maneira a nos possibilitar incluir a dimensão ética e estética no sentido contribuir na construção de um processo pedagógico que tenha como ponto de partida e como telos a liberdade e a autonomia humana. A sala de aula é mais do que um lugar onde meramente se transmite conhecimento, mas um espaço de convivência, de alegria, de trocas de afetos e saberes. Sabemos que as pessoas que aí se encontram são portadoras de paixões, de pulsões, de sentimentos e de uma história que precisa ser valorizada e levada em consideração. Aquele caráter colonizador que muitas vezes marca a prática formativa e pedagógica parece não ter mais sentido, sobretudo pelas consequências causadas. Diante desse diagnóstico, este livro pretender fazer algumas reflexões acerca dos saberes e das práticas que são adotados nos cursos de formação de professores e na prática docente. Cremos que não é de todo sem sentido aventarmos a ideia de que a angústia e a insegurança dos futuros docentes são os efeitos de um processo formativo que fora concebido e implementado a partir de uma lógica e de uma prática que nem sempre leva em consideração o real, isto é, a vida que constitui as nossas existências e que pulsa em nossas experiências cotidianas. Mais do que isso, desconsidera que os saberes e as maneiras de conduzir nossas vidas – de alunos e professores, por exemplo, - têm diferentes origens e matrizes e que são construídos em distintos lugares e tempos percorridos pelos sujeitos. E nos parece que levar isso em consideração pode ser bastante enriquecedor.