Saúde Sexual e Reprodutiva de Mulheres Imigrantes Africanas e Brasileiras
O presente estudo teve como objectivos descrever os conhecimentos, atitudes e práticas relevantes para a saúde sexual e reprodutiva de mulheres imigrantes, compreender a influência do processo migratório na saúde sexual e reprodutiva e identificar barreiras e elementos facilitadores no acesso e utilização dos serviços de saúde. Para a concretização destes objectivos desenvolveu-se um estudo qualitativo através da realização de grupos focais com 35 mulheres oriundas de Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa e do Brasil. Os resultados do estudo sugerem que as mulheres imigrantes são um grupo heterogéneo no que respeita aos conhecimentos, atitudes e práticas face à saúde sexual e reprodutiva. A existência de lacunas importantes no conhecimento de algumas mulheres sobre questões de saúde sexual e reprodutiva é um resultado pertinente uma vez que um conhecimento adequado pode contribuir para práticas de saúde saudáveis. Um grupo de mulheres percepciona ter fracas competências para adoptar práticas seguras em saúde sexual e reprodutiva, o que torna relevante implementar intervenções que permitam desenvolver competências de resolução de problemas, de tomada de decisão e de comunicação interpessoal que reduzam a frequência do envolvimento em comportamentos de risco. Na promoção da saúde sexual e reprodutiva é ainda fundamental compreender a complexidade das situações em que as mulheres negoceiam o seu comportamento sexual e ter em conta a natureza interpessoal subjacente a este comportamento, as diferenças de género e de poder nas relações heterossexuais e a identificação cultural, pois podem determinar a adopção de práticas saudáveis em saúde sexual e reprodutiva. Várias participantes apontaram a existência de barreiras administrativas, estruturais, socioeconómicas e culturais associadas ao acesso e utilização dos serviços de saúde. A melhoria do acesso aos serviços de saúde deve ser uma componente subjacente à promoção da saúde sexual e reprodutiva nas populações imigrantes. Para garantir mudanças comportamentais efectivas e sustentadas é necessário trabalhar na promoção dos recursos individuais mas também na activação dos recursos de apoio nas comunidades. Este estudo vem realçar a importância de desenvolver intervenções adequadas às especificidades de cada grupo, adoptando uma abordagem holística da saúde sexual e reprodutiva que contemple as várias dimensões do conceito e o bem-estar das populações. Esta estratégia poderá conduzir a intervenções mais congruentes com desejos, valores e necessidades, criando maior aceitação por parte das populações imigrantes e, consequentemente, aumentando a eficácia das acções implementadas.